terça-feira, fevereiro 13, 2018



- ars longa, vita brevis -
Hipócrates

antes e depois ou "olá a todos. hoje escrevo-vos com um sabor amargo na boca, pois não gosto nada destas duas pinturas, embora goste do Bazille. O que primeiro nos faz questionar este quadro do Bazille é o seu formato. O formato quadrado não é comum, ainda para mais num quadro que vai beber a formatos e fórmulas clássicas (fórmulas que privilegiam o rectângulo) . É verdade que alguns artistas do século XIX usavam este formato quadrado para pintar, mas isso não era casual. Porque é que Bazille o usa? Porque o que Bazille pinta não é uma paisagem e o formato rectangular é usado para paisagem. Aliás, quando imprimimos um documento, o formato rectangular "deitado", é-nos apresentado como sendo a opção "landscape" (paisagem). Talvez tenha sido por isso que Bazille tenha optado por um formato que não limita a sua pintura a géneros convencionados como a paisagem ou o retrato. Por outro lado, este formato permite - e exige - a concentração do conteúdo: não há pintura em quadrado sem centralidade, sem capacidade de síntese. O artista alterou a distribuição prévia das figuras - distribuição essa que podemos ver nos seus desenhos preparatórios - para "arranjá-las" no espaço quadro. As influências foram muitas e como isso daria outro post, não irei falar delas. Mas uma delas tenho de referir e que é, de resto, a que aqui apresento. Bazille foi beber a esta cena pastoral de Laurent de la Hyre. É uma cena que nada acrescenta (pelo menos este autor nada me diz), mas que possui um elemento, um pastor que Bazille vai buscar. Só que enquanto o pastor de La Hyre olha contemplativo para o gado e a paisagem enquanto ouve a flauta que o seu companheiro toca, o jovem de Bazille que se encontra também reclinado observa a luta de dois dos seus amigos. Só que em de La Hyre, o espaço e a temática prestam-se a essa contemplação: o pastor olha para lá dos limites da tela. Em Bazille o espaço é mais apertado e há por isso uma discrepância entre a figura reclinada que, como figura reclinada vinda de La Hyre, deveria estar a contemplar o infinito, e a proximidade dos seus colegas tão activos. Esta separação entre quem observa e quem é observado é também cromática, com as figuras contemplativas a fazerem-no na sombra e as figuras a activas a lutarem ao sol. É uma pintura cristalizada não só pelo tempo, mas no tempo. Ao contrário de outras pinturas de Bazille, esta mostra-nos personagens com traços muito semelhantes, nada individualizados. Bazille deverá ter tido dificuldade em arranjar modelos e por isso trabalhou sempre com o mesmo. Isto se por um lado pode ser considerado negativo, terá de ser visto por outra perspectiva: há uma extensão temporal da pintura. 



Laurent de La Hyre
Landscape
1647
Musée Fabre, Montpellier








































Frédéric Bazille
Summer Scene
1869
Fogg Museum