quarta-feira, agosto 10, 2016

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como já estava a sentir falta dos "antes e "despoises"... pois é meus fiéis leitores, gente que vem de todo o mundo só para ler estas parvoíces: cá estamos com um "antes e depois". hoje trago-vos Príamo (não confundir com Príapo). Não percebo muito bem esta representação e vou explicar-vos porquê: segundo a mitologia grega, Príamo era rei de Tróia quando se deu a Guerra de Tróia. Para quem não sabe nem viu o filme com o Brad Pitt a fazer de um Aquiles muito másculo (ao que parece não foi sempre assim já que Aquiles numa outra passagem da sua vida teve de se vestir de mulher para escapar à morte), esta personagem participou na Guerra de Tróia que opôs gregos a troianos: os gregos queriam raptar Helena de Tróia, a mulher mais bonita da Antiguidade e os troianos queriam mantê-la. Quem venceu foram os gregos que com o célebre "Cavalo de Tróia" se infiltraram na cidade, atacaram Tróia e raptaram Helena. Aquiles ficou ferido no calcanhar (a única parte do corpo que era vulnerável). Mas antes disso, matou Heitor, filho de Príamo. Ora o que vemos nesta cena é, segundo creio, Príamo a pedir a Aquiles que libere o corpo do seu filho Heitor. O que me confunde são os timings: é que depois disto Aquiles ainda entrou dentro da cidade combateu e, aqui sim, foi ferido. Mas vamos ao que interessa: no século XIX as pessoas - e os governos - interessavam-se genuinamente pelas coisas culturais: discutia-se literatura nos periódicos, nos serões, criticavam-se os artistas, faziam-se exposições nos Salões, exposições às quais o público acorria. Sendo que as exposições nos Salões tinham o apoio das altas individualidades, era natural que vigorasse uma estética oficial. E no início do século XIX houve um gosto um bocado piroso pelo orientalismo e pelos grandes temas mitológicos, históricos e religiosos, totalmente desadequados ao seu tempo: com Nietzsche Deus tinha morrido e já ninguém acreditava em deusas e deuses da Antiguidade. Só Napoleão dava aos pintores bons motivos para os temas históricos/políticos. Mas muitos destes artistas legitimados pelos Salons foram posteriormente - e pouco posteriormente - esquecidos em detrimento da nova estética impressionista. Bom, o que interessa é que alguns modelos da Antiguidade são assim a modos que arquetípicos (sim, a palavra existe). Para além deste post, conto colocar outro que compara um relevo romano com uma pintura de Ingres. E assim acontece." 
Príamo aos pés de Aquiles
Sarcófago da Colecção Borguese
século III
Museu do Louvre, Paris

Martin Langlois
Príamo aos pés de Aquiles
1809
Escola Superior de Belas Artes, Paris