segunda-feira, julho 25, 2016

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

olá amiguinhos, tudo bem? deixo-vos hoje um "antes e depois" literário. parece-me que isto é um antes e depois, não sei... vocês dirão de vossa justiça. o primeiro excerto é de um livro do Flaubert, "A Educação Sentimental" que o Woody Allen considera uma das coisas pelas quais vale a pena viver. O livro tem coisas maravilhosas que mais tarde irei colocar aqui no belogue e tem também estas frases que não sendo maravilhosas, me lembram outra coisa: uma passagem d' "O Primo Basílio" do Eça, que de facto foi escrito após "A Educação Sentimental". Apesar do Eça ter ido buscar muito da "Madame Bovary" do Flaubert para o seu "O Primo Basílio", e de ter ido buscar muito das "Ilusões Perdidas" do Balzac para "A Capital", não sabia que havia esta referência. Obviamente o Eça é, para mim, um nome maior da literatura "estratosférica" que não necessita de copiar nada. Mas as frases têm semelhanças. Pelo menos é o que me parece. Então vamos lá:
 
"Parecia a Frédéric, ao descer a escada, que se tinha tornado um outro homem, que a temperatura perfumada das estufas quentes o rodeava, que entrava definitivamente no mundo superior dos adultérios patrícios e das altas intrigas." (FLAUBERT, Gustave, A Educação Sentimental; Lisboa: Relógio d'Água Editores, 2008, p. 294-295)
 
"(...) e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações"(QUEIRÓS, Eça, O Primo Basílio)

Dizeindeme o que achaindes. Adeus, escobainde os dentes, dizeinde as bossas orações e beijinhos repenicados.
 

5 Comments:

Anonymous ana said...

o video é horrível, mas o sonoro é que interessa

https://youtu.be/orlFqGXFz_I?t=1m57s

25/7/16 1:07 da tarde  
Blogger Belogue said...

Amorzinho, coisa linda da amiga

existe um vídeo "oficial" da música:
https://www.youtube.com/watch?v=T0La-0frIuc

Esse parágrafo d'O Primo Basílio é uma obra de arte que deveria dar o Nobel da literatura, póstumo, ao Eça:

"tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Imagino o Eça, de pé frente a uma mesa alta - que era como ele escrevia - a fazer e refazer a parte do "o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido". C'um caneco, isto merecia uma estátua. É óbvio que o parágrafo só ganhou importância depois da música. Apesar de ser belíssimo, outros haverá que não lhe estão atrás. Descobri há pouco tempo este:

"Ou porque o brutamontes não deu o recado, ou porque ela tinha demasiadas coisas para dizer para se explicar numa palavra, a resposta ficou para mais tarde! Ficou tomado por uma cólera de orgulho. Jurou a si mesmo não ter nem sequer um desejo; e, como a folhagem levada por um furacão, o seu amor desapareceu. Sentiu um alívio, uma alegria estóica, depois uma necessidade de acções violentas; e pôs-se a andar ao acaso, pelas ruas." (A Educação Sentimental). O que é muito bonito neste parágrafo é que na primeira frase, há uma desculpabilização para o que ela - a Sra Arnoux por quem Fréderic está apaixonado - fez. A culpa por ela não ter aparecido ao encontro foi do mensageiro ou de uma grande tragédia que não poderia ser explicada num recado. Gosto também da parte em que ele decide não ter sequer um desejo. Mais à frente, logo na página seguinte, vemos que não é bem assim. Fréderic dorme pela primeira vez com Rosanette, a prostituta:

"Por volta da uma hora foi acordada por rufos longínquos de tambor; e viu que ele estava a soluçar, com a cabeça metida no travesseiro.
- O que tens tu, amor querido?
- É o excesso de felicidade - disse Frédéric. - Havia já muito tempo que te desejava!"

Vou embora, meditar. beijos na bochecha

25/7/16 10:09 da tarde  
Blogger Belogue said...

Estou a pensar criar um negócio de t-shirts com ditos de escritores, ou trocadilhos entre o nome deles e das obras... tenho já algumas ideias.
A sério, não estou a brincar. Já penso nisso há muito tempo.

26/7/16 9:01 da manhã  
Blogger Belogue said...

Faltou ao Eça, nesse parágrafo que tão bem descreve o que é estar apaixonado, mais um sintoma: cólicas e diarreia!

27/7/16 12:24 da manhã  
Anonymous ana said...

eu apoio o negócio das tshirts. postais também poderiam resultar. mas as tshirts são mais pós-pos-modernas.

27/7/16 2:18 da manhã  

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