sábado, junho 20, 2015

uma burguesinha

12 Comments:

Anonymous Anónimo said...



:)))

https://www.youtube.com/watch?v=KowDzt31jUM


E.X.

22/6/15 5:32 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro Anónimo:
Ora nem mais!
Uma burguesia assim como a Madame Bovary ou a Luísa do Primo Basílio (que é como a Madame Bovary, mas num outro contexto) ou as mulheres dos quadros do Fréderic Bazille ou do Monet (aquelas de sombrinha ao vento) ou do Tissot... Enfim, qualquer coisa século XIX. Todas elas voláteis, com grandes expectativas. E desilusões proporcionais.

b.

22/6/15 11:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá

Parece-me que o adjectivo fugidia traduz melhor o mobile da ária de Verdi. A mulher é fugidia. Fugidia talvez como o tempo atmosférico, que Monnet pintou tão bem e do mesmo modo imprevisível.
Não sei se as expectativas das burguesinhas do sec XIX foram tão grandes. Acreditando no Eça, não iam além do primo, ficavam à porta de casa, em família e com as criadas. Desiludiam-se e desmaiavam se percebiam que a sua vida dava um bom romance francês.

Tenha um bom dia

E.X.

23/6/15 6:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...


Monet


E.X.

23/6/15 12:12 da tarde  
Blogger Belogue said...

Olá Anónimo:

Não falarei acerca das mulheres, porque não percebo nada de pessoas: nem de homens nem de mulheres. Só posso falar de mim, mas também não vou fazê-lo... Desculpe!
Sabe, estava a pensar no que escreveu. Parece-me que quanto mais baixa era a classe social a que estas mulheres do século XIX pertenciam, maiores eram as suas aspirações (lógico!) e menor a sua capacidade de concretizarem uma relação extra-conjugal. Algumas delas só concretizariam com o primo e só se ficariam pelo pensamento, talvez limitadas pela moral, pelos escrúpulos ou até pelos filhos (embora muito menos por eles). Arranjam amas de leite para os filhos porque é chique! Os maridos lêem os jornais para se manterem informados acerca dos negócios; elas procuram folhetins e qualquer coisa que as liberte do marasmo das suas vidinhas habituadas.
Mas têm expectativas elevadas para a vida! Querem o sonho do príncipe montado num cavalo branco que as leva para uma fortaleza, local onde não envelhecerão juntos, porque nos contos burguesas ninguém envelhece, mas onde ele as amará com a mesma paixão do primeiro dia. Esquecem, talvez porque os casamentos eram acordos (como ainda hoje são) em que as partes não eram tidas nem achadas - pelo menos a parte feminina - que os príncipes também têm pelos encravados na bochecha do rabiosque, e que elas têm as unhas dos pés com fungos. Os maridos são bons para elas, dão-lhes vestidos e laços para o cabelo, instalam-nas em casas bonitas e com cortinados, assumem-nas, mas elas não sentem o arrebatamento da paixão que lêem nos livros e cujo sabor conhecem de algum namoro da infância. Os amantes dão-lhes a paixão que acaba cedo e dói. Mas mesmo assim, parece que vale tudo: toda a dor em troca de uns segundos em que coração bate mais acelerado.

Gosto sobretudo daquele fastio que elas sentem, a acídia, o ennui constante.

23/6/15 9:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá

Eu também não sei muito sobre as pessoas a não ser que nos surpreendem constantemente.

Li o primo Basílio há alguns anos e não me lembro dos detalhes, particularmente dos cronológicos que são os que agora me interessam. Terá Luísa ( quase escrevi Heloísa) morrido grávida do primo? Será uma morte mais médica do que literária? Enfim , vou ter que voltar a pegar no Eça.

Tenha um bom dia

E.X.

24/6/15 6:09 da manhã  
Blogger Belogue said...

Olá boa noite/tarde:

Acho que a Luísa morreu de desgosto. A empregada faz chantagem com ela e ela pede a um amigo para lhe pregar um susto. Só que esta morre. Lembro-me disto perfeitamente. A empregada morre com o susto. Luísa fica deprimida - até porque o primo, de barriga cheia e farto daquelas conversas de projectos futuros, “dá à sola” - e acaba por morrer. Acho que é isso, não posso precisar. Não me lembro o que acontece com o marido. Há uma outra Madame Bovary portuguesa: a do Vale Abraão de Agustina Bessa-Luís. Lembro-me que no livro o marido, Carlos, morre de uma forma estranha, sentado num banco com qualquer coisa na mão. Quando o descobrem morto, vêem que aquilo que ele tem na mão está vazio e quando lhe fazem a autópsia também não descobrem nada. Isto é curioso porque corrobora a ideia de falta de densidade dele que está presente no livro, mas mais no filme de Manoel de Oliveira, baseado no livro.
Em contrapartida, quando Claude Chabrol filma a Madame Bovary, dá à sua morte uma força e visibilidade que a Ema de Manoel de Oliveira não tem. A Ema de Oliveira, manca, cai no rio depois de pisar uma tábua solta e morre, talvez afogada. Digo talvez porque não se ouve Ema a lutar pela vida. Já a Ema de Chabrol (Isabelle Hupert que eu amo, adoro, venero), veste-se de preto e vai à farmácia quando se descobre na penúria e sem amante. Lá, depois de distrair o farmacêutico, toma um veneno. É notório o contraste entre o vestido negro e a boca branca, apanhada a “comer” o veneno em pó. Em casa deita-se na cama e prepara-se para morrer numa cena que dura muito tempo. Ema tem os olhos vidrados, o interior da boca negro e as faces brancas. Morre de uma forma que quase nega a vida faustosa que teve enquanto o amante a quis, com vestidos e inúmeros acessórios desnecessários cuja confecção a deixam com dívidas e por isso, na penúria.
Tenho também de reler O Primo Basílio. Mas o que gosto mesmo é A Relíquia!

24/6/15 8:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, bom dia.
Agradeço-lhe as indicações sobre o primo Basílio. Na verdade não espero que a presumível gravidez de Luísa venha referida explicitamente no romance. Seria uma possibilidade subtil que o Eça lá teria deixado.É uma questão de fazer contas ao tempo entre a separação de Basílio e Luísa e a morte desta e verificar se tal seria possível, verificando também se há outros detalhes que confirmem esta hipótese. Isto explicaria o nome da amante que Basílio queria ter trazido de Paris: Alphonsine é menino ou menina?
Talvez ache que é uma maneira um bocado distorcida de ler mas eu divirto-me assim. A primeira coisa que peço a um escritor ou a um realizador é que saiba contar uma história. Não tem que a contar numa narrativa linear. Pode ser como num sonho, à David Lynch. Mas lá para o fim preciso de acordar e o mundo precisa de voltar a fazer sentido sem que eu saiba bem como. Se além de me contar uma boa história, o escritor tentar ainda ludibriar-me, isto é , mostrar a mão direita enquanto faz o truque com a esquerda, e se fizer isto em grande estilo, ganha um leitor fidelíssimo e leal.
O nosso Eça parece ser desta cepa, tenho quase a certeza que é . A Relíquia é uma bela história, bem contada , cheia de humor e facécias à Eça, que são o véu diáfano que ele lança sobre as coisas importantes que tem para dizer. Quando o li, aborreceu-me não ter percebido , ou melhor , aborreceu-me enganar-me sobre a "intenção dramática" dos óculos da titi. Lia e pensava que a titi talvez ainda tivesse uns olhos lindos ( há mulheres maduras que têm) e que no fim tudo acabaria em redenção sob o efeito milagroso da relíquia e dos olhos azul celeste da titi. Mas a relíquia acabou por ser a peça de roupa íntima duma cavaleira hospitalária do caminho de Jerusalém, Teodorico foi deserdado, enfim, nada do que eu previa. O seu comentário fez-me pensar no livro e neste assunto mal resolvido. Talvez a "função dramática" dos óculos da titi seja a mesma dos dois pontinhos da palavra titi. Não sei mas já tenho aqui assunto com que me divertir.
Lamentavelmente ainda não vi a Bovary do Chabrol que descreve tão bem. Fá-lo muitíssimo bem. Quase que dá para sentir o veneno na nossa própria boca.Lembro-me de um filme do Renoir, já não sei qual porque tenho uma péssima memória, em que um prisioneiro de guerra francês vai ser executado por ordem dum general alemão. Passa-se na fronteira, é inverno, está frio e os campos estão cobertos de neve. No momento crucial a câmara está nos aposentos do general, ouve-se o tiro a ecoar pelos campos e o general engole dum só trago um conhaque quente . Isto sente-se na carne, no estômago, como a sua descrição. A decisão de executar o soldado ou partisan francês colocou um dilema moral ao general que fica claro ao não assistir à execução e estar de costas voltadas para a janela quando se dá o disparo.
Sobre a Bovarinha, já vi o filme e li o livro mas teria que o fazer de novo para dizer qualquer coisa que valesse a pena( lamento mas tenho uma péssima memória). Lembro-me que na altura se comentou muito a morte de Ema. Suicídio, acidente? Por mim deixo-a a a flutuar nas águas do rio, como a Ofélia desse outro grande prestidigitador. Adoro a Agustina. Pura inteligência. Quando estou disperso e preciso de me recentrar recorro a ela. infelizmente teve um ABC. Se uma escritora do Porto tem mesmo que ter uma doença má, que seja um ABC :)))
Onde o Manoel de Oliveira esteve a altura do romance que tinha em mãos foi no Amor de Perdição, para mim o melhor romance da nossa literatura. Não esqueço o belíssimo plano em que Simão se atira à água, hirto como uma estátua a quem a vida já houvesse abandonado. O Amor de perdição, esse sim é um amor maior do que a vida.
Agradeço-lhe os comentários com que tem tido a gentileza de me responder. Tem sido muito estimulante.
Um bom dia para si
E.X.

25/6/15 6:41 da manhã  
Blogger Belogue said...

Caro Anónimo:

Nem de propósito: esta quinta-feira (hoje) estreia uma nova adaptação cinematográfica da Madame Bovary do Flaubert.
Não acho uma maneira nada distorcida de ler. Pelo contrário. Alphonsine faz-me lembrar o amor do narrador no Proust (narrador que também se chama Marcel). Ela era Albertine, mas ele descobre que de facto ela gostava de outras mulheres. O que é curioso pois o narrador é um pouco misógino (e o Proust era homossexual). A primeira coisa que procuro num livro é que ele me leve a sentir o mesmo que as personagens: apaixonar-me, sentir medo, ter vontade de chorar, sentir saudade.... E isso só é possível se a coisa for credível; se as pessoas e os lugares tiverem densidade. Tenho de ler e conseguir fazer imagens mentais daquilo que estou a ler. Consigo isso com o Eça, mais do que qualquer outro. Talvez só o Thomas Mann, alguns russos (mas a escrita dos autores russos... não me entra) e pouco mais. Dos novos autores portugueses confesso que não leio nada e não tenho vontade de ler. Parece-me sempre tão pseudo-intelectual, tão falsa e desnecessariamente complexo, tão oco. O Eça é, como diriam os brasileiros "tudo de bom". Também é um pouco misógino, mas ao Eça tudo se perdoa. Até as vírgulas (dizem) fora do sítio. Há um livro que se chama Génio, do Harold Bloom (acho eu) em que o autor refere quem são, para ele, os maiores génios da literatura mundial. Entre todos os génios, o autor refere dois portugueses: o Pessoa e o Eça. E do Eça aconselha A Relíquia.
Em relação à Bovary do Chabrol (desculpe, o meu discurso está desorganizado), lembro-me de uma outra coisa. O caminho que a Madame Bovary fazia para entrar em casa era ladeado por laranjeiras e o Manoel de Oliveira foi buscar exactamente a mesma alameda de laranjeiras para a Bovarinha.
Ah, o Renoir. Primeiro, o Renoir que é da família do Renoir-pintor (que, confesso, de entre os impressionistas é aquele de que menos gosto), vai por vezes buscar ao pai instantes para os filmes. Em Paris does Strange Things há referência ao Le Moulin de la Galette, por exemplo. Há uma outra no Boudu salvo das águas. E essas referências interessam-me muito. Do Renoir vi A regra do Jogo e adorei. É um pouco como o Oliveira, no sentido em que as personagens fazem teatro no cinema. E o Renoir filmou uma Madame Bovary que nunca vi..

Bem, vou dormir. Também lhe agradeço os comentários. É bom ter com quem trocar ideias.

25/6/15 11:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bom dia Beluga

A ver se não perco o filme. Vou agora de férias mas ainda vou tentar vê-lo.

Pois o Eça merece estar na lista dos melhores embora eu não perceba como é que autores como o Bloom podem ser tão íntimos de tantos génios. Vejo o índice do Bloom e lembro-me do eixo das abcissas dum gráfico de vendas, desculpe a má língua. Oxalá esteja enganado e a leitura do Bloom enriqueça a nossa leitura. Oxalá o Bloom perceba o que é uma das nossas serras viradas ao atlântico, o que é a estaçaõzinha de caminhos-de-ferro de Tormes que o Eça faz quase pimba mas muito nossa,o que é uma facécia, etc.
Também leio pouco os nossos novíssimos. Dos contemporâneos gosto do António Lobo Antunes. Estou para reler uma ou duas coisas do Saramago com a maior abertura de espírito. A unanimidade é quase tão perfeita que eu devo estar enganado. É claro, também gosto da srª D. Lagostinha Bessa-Luís por mais confusa que esteja.:)))
Desculpe, mas já estou com o espírito de férias :))). Vou para a serra reaprender a respirar como o Jacinto.
Tudo de bom para si e até breve
E.X.

26/6/15 10:11 da manhã  
Anonymous ana said...

ai quiruditos, qridos. eu leio o gonçalo m. tavares e gosto. Mas devo confessar que a Relíquia deve ser dos livros que mais gostei de ler em todos os tempos. Proust, não consigo. Mas e o Thomas Pynchon? e o Somerset Maugham? e o Hesse (do jogo das contas de vidro? Lobo Antunes, custa muito a passar, mas as crónicas são das coisas mais lindas e tristes que há, lascas dos dias que se sentem a cortar na pele (ou no estômago, também se calhar).
pronto, desculpem lá ter subido acima da minha chinela pimba.
bom brom!

26/6/15 11:06 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro Anónimo do dia 26.06 (10:11h):
Desejo-lhe que, como Jacinto, faça nestas duas férias leituras tão interessantes como Shopenhauer e o Eclesiastes. Boas férias

Ana:
O tempo é curto e por isso não posso desperdiçá-lo a ler coisas de que não gosto.

29/6/15 12:33 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home