quinta-feira, fevereiro 07, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Na fachada da catedral de São Marcos em Veneza é possível observar dois baixos relevos, do mesmo tamanho, muito parecidos, mas com quase mil anos de diferença entre eles. O primeiro é um trabalho romano do século III d. C., enquanto o outro foi executado por volta do ano 1300 e é de origem veneziana. Como podemos ver são parecidos na temática (ou naquilo que aparentam representar), como na composição ou no tamanho. Poderíamos pensar à primeira vista que o autor do segundo baixo-relevo copiou o seu antecessor por admirar a obra ou para dar continuidade à linguagem do trabalho iniciado mil anos antes. O baixo-relevo do século III d. C. representa Hércules a levar um javali de Erimanto ao rei Eristeu. [Hércules, como filho de Zeus nasceu com uma força extraordinária, força essa que não controlava muito bem. Ainda no berço estrangulou as duas serpentes que a sua tia colocara a seu lado para o matarem. Mais tarde, quando enlouqueceu graças à mesma tia que procurava matá-lo por todos os meios, Hércules matou a mulher e os próprios filhos. Desgostoso e disposto a redimir-se procurou o rei Eristeu que lhe deu doze trabalhos. Um desses trabalhos era capturar e levar até ao rei um javali que destruía a região de Erimanto]. Esta cena representa a vitória do bem sobre o mal, embora ao mesmo tempo seja um símbolo da subjugação de Hércules a um mortal.

O autor medieval substituiu os símbolos que relacionavam o modelo original com o paganismo, por outros que passaram a relacionar o novo modelo com o cristianismo. O escultor do segundo baixo relevo substitui o rei Eristeu assustado por um dragão, e substitui o javali por um veado, dando assim à história mitológica um fôlego cristão. Para os cristãos o dragão é símbolo do mal: é muitas vezes relacionado com a serpente (é como uma serpente mas com patas), está relacionado com o ouroboros, com São Jorge e com o demónio. Vencê-lo é vencer o Mal. Mas o seu simbolismo é ambíguo, pois há quem considere o dragão o princípio do demiurgo. Seja como for, quem entrega o veado ao dragão, subjuga-o com o pé; o dragão é já o mal derrotado que nada pode contra a força do bem que emana do veado. O Bem vence o Mal ou, para continuarmos no mesmo ambiente, o David vence o Golias, numa alegoria da Salvação.
Este post tinha uma boa conclusão, mas agora não me lembro o que queria dizer. Fica assim.

1 Comments:

Anonymous Géssica said...

Oiii...Muito obrigada pelo post, me ajudou mto em um trabalho sobre iconografia, tirou mtas dúvidas! Vlw \o/

26/5/11 2:47 da manhã  

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