- ars longa, vita brevis -

hipócrates

antes e depois ou "este não é o único trabalho de Sussman onde a artista vai buscar inspiração a cenas retratadas em quadros bastante conhecidos. fez isso com "O rapto das Sabinas" e fez também com o quadro “As Meninas” de Velazquez. a recriação em filme que tem a duração de 12 minutos (os 89 segundos são para o título) tem um efeito curioso: é que uma vez inserida a câmara na cena, câmara essa que se passeia pelo quadro vivo a perspectiva deveria mudar, mas Sussman insiste para que a visão no espelho do rei e da rainha, por exemplo, permaneça a mesma, sabendo nós que o ponto de vista foi alterado. no quadro de Velazquez somos confrontados com um espaço estanque que encapsula uma hierarquia governada por quem vê, pelo observador que é ao mesmo tempo o rei que está a ser retratado. poderíamos ser nós, uma vez que estamos no mesmo lugar do rei, assim como poderíamos ser os intrusos da cena de Manet. esta questão do observador que é observado já tinha sido abordada por Foucault embora ele colocasse o ponto que deslinda o quadro não no centro da composição, mas no lado direito da mesma, no local onde uma porta se abre e a silhueta de uma criada é recortada pela luz ao mesmo tempo que ela ergue a mão e afasta a cortina. é ela quem justifica o quadro, uma vez que a majestade só existe quando existe alguém que é subjugado: a majestade dos reis existe porque eles mandam; os reis exercem o seu poder sobre as pessoas, principalmente sobre as classes mais desfavorecidas, a criada pertence a uma classe social inferior, logo ela faz a nobreza deles ter razão de ser":

Velazquez
Meninas
1656
Museo del Prado, Madrid


Eve Sussman
89 Seconds at Alcázar
2003