segunda-feira, setembro 10, 2007

- o carteiro -

O compartimento número 2 da Catedral de São João em Valleta, guarda uma pequena história sobre dois homens, e aparentemente, o mesmo destino.

Planta da Saint John's Co-Cathedral


Capela de Portugal, Saint John's Co-Cathedral
Como se pode ver na imagem acima, os dois homens são António Manoel de Vilhena, 66º Grão-Mestre da Ordem de Malta. Foi de grande importância tanto para a Ordem como para a ilha, uma vez que reforçou os bastiões de Medina e Valleta, inicou inúmeras construções de monta em Malta tal como o Seminário, a residência do bispo, o Teatro Manoel em Valleta, cuja arquitectura se aproxima do Teatro Real de Palermo e que é considerado como uma das mais antigas casas de ópera da Europa. Morreu em 1736 e foi enterrado na Capela de Portugal (compartimento 2) na referida Igreja.

António Manoel de Vilhena

Também sepultado na Capela de Portugal está Manoel Pinto de Fonseca, 68º Grão-Mestre da Ordem, que curiosamente teve o "reinado" mais longo. As construções sob a sua ordem foram inúmeras: as casas do Primeiro-Ministro, o alargamento do Palácio da Justiça, ofertas à Catedral de S. João, tais como vestes e dois sinos de ouro e prata, fundou a Universidade de Malta e morreu em 1773. No entanto, como contribui com pesados impostos sobre o povo para benefício da nobreza de onde descendia, Manoel Pinto da Fonseca não foi um Grão-Mestre amado pelo seu povo. Corou-se príncipe de Malta e acabou por não ser levado a sério devido ao seu lado diletante.

Manoel Pinto de Fonseca

As sepulturas dos dois homens na Capela de Portugal é bem eloquente. António Manoel de Vilhena (lado direito da imagem), escolheu um estilo Rococó, adequado à época em questão. Não é um estilo sóbrio, mas o tema da sua morte e vida é retratado com seriedade: as suas armas, o seu escudo, um anjo lá em cima que toca uma trombeta e em baixo, imperceptível infelizmente, um servo que segura o túmulo olha assustado para cima. Já a sepultura de Manoel Pinto de Fonseca em estilo Renascentista revela alguns elementos de assustadora megalomania: um obelisco (monumento egípcio de celebração da morte), um anjo que é a Vitória a tocar uma trombeta e um putti sentado frente ao retrato do Grão-Mestre olha-o. Este putti representa a Fama. Em baixo o o escudo da famíla com uma coroa por cima.

Mesmo nos dois retratos vemos as diferenças. No primeiro o Grão-Mestre enverga a cruz de Malta ao pescoço, o seu escudo aparece no canto inferior direito, mas não há nada mais. Simples e elucidativo. O segundo retrato, o retrato de Manoel Pinto de Fonseca é uma ode a si próprio: enverga um manto de arminho que só a realeza usava, faz-se retratar como um rei, em cima da mesa encontra-se uma coroa (a coroa relativa ao título que ele atribuiu a si mesmo) e em baixo o escudo.