- o carteiro -
Este post estava preparado há algum tempo, mas esperava o dia em que pudesse confirmá-lo, até porque escrito no calor (da noite) dos acontecimentos, o conteúdo poderia ser duvidoso. Mas hoje confirmei o que já estava parcialmente escrito. Embora “o carteiro” não se dedique a estes temas, é nele que vou inseri-lo.
Uma pessoa levanta-se de manhã e veste o seu vestido vermelho (semelhante ao da imagem no comprimento e no corte, mais discreto no decote). Não passa pelo espelho, não hesita entre levar e não levar: é aquilo que quer usar e não há ninguém que a demova (excepto o tempo, mas mesmo esse está de feição). Sai de casa e apesar da hora ainda não ser propícia a grandes movimentos, os primeiros transeuntes com quem se cruzam não disfarçam sorrisinhos, alguns arriscam a buzina do carro (uma coisa que entrou em desuso desde quê? Os finais dos anos 60?) e vêm as primeiras palavras. Algumas inocentes, sem consequências, até engraçadas. Outras de puro mal gosto, de nos fazer ter vontade de voltar atrás e vestir a primeira camisola de gola alta, ou então andar pelos cantos, junto às parades para disfarçar e para ver se ninguém repara.
Eles disparam com mais ou menos pudor, e outra coisa não seria de esperar (não por quem usa, mas porque lhes está na natureza olhar dessa forma para o invólucro), as palavras do costume, algumas lisonjas, mas na maior parte das vezes, com sabor a ameaça e a recriminação. De “bom rabo” a “estás mesmo a pedi-las”, vai um variado leque dos chamados piropos. O que é um rabo? Um aglomerado de moléculas, células, tecidos, músculos, carne e pele. Para além da função escatológica, não serve de grande coisa. Eu se fosse braço ou perna sentir-me-ia insultado por ser preterido em relação ao rabo. E o que é um braço ou uma perna, senão a extensão de uma função corporal. Já o “estás mesmo a pedi-las” é o mote para virar costas (melhor, virar de frente, pois de costas já uma pessoa estava), levantar o indicador e proferir uns impropérios. Mas assim seria uma pessoa que para além de “estar a pedi-las”, era mesmo “uma galdéria” pois ainda ripostava. O melhor é continuar com as costas voltadas e pensar que o aquilo a que se referem é à água nas florzinhas. É argumento falacioso: quem quer não pede, vai buscar.
Elas, são a verdadeira desilusão. Ouve-se de dentro dos carros: “olha para isto, depois dizem que os homens isto e que os homens aquilo. Quase que se despem! Está mesmo a pedi-las”, “até nem está destapada. O vestido é abaixo do joelho”, “mas é justo”, “cada um usa o que quer”, “e cada um vê o que quer, não é? Se eu não te conhecesse”. E o vestido vermelho passa, de cabeça levantada porque não tem nada de que se envergonhar e deixa de acompanhar a prosa familiar até porque entre “marido e mulher ninguém, mete a colher”, e muito menos o vestido vermelho de outra mulher. Que um espécime masculino assim pense, não é estranho nem revoltante,... quer dizer, não é nada (excepto a parte do “está a merecê-las”). Revoltante é pensar que uma mulher pensa isso de outra só porque nesse dia não vestiram as duas como acontece uma vez num milhão, vestidos vermelhos iguais.
4 Comments:
penso que o piropo sai da boca mesmo com outras cores. uma amiga minha que seguia de verde ouviu: «e isto está ela verde, imagine-se quando estiver madura».
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por mim acho mais interessante outro gracejo: «acreditas no amor à primeira vista ou tenho de passar por ti mais vezes?»
(sorriso) olhe, esse piropo do "está verde" está ao nível do "jóia, anda aqui ao ourives". há coisas hilariantes.
adoooooooorooooooo!!!
rouge-désir: toujours!
beijo-a
(com labios vermelho-escarlate)
rouge absolute- lancôme. beijo para si
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