- o carteiro -
Abriu recentemente em Liverpool o novo International Slavery Museum , isto no seguimento das comemorações da abolição da escravatura em Inglaterra. O museu, situado no Maritime Museum que sofreu algumas obras para poder receber a colecção, tinha como objectivo celebrar esse feito político e social, mas também dar a conhecer às gerações posteriores o que foi a escravatura. Porém, o museu está mais virado para a exposição de artefactos de tortura do que para a sua integração temporal e contextual. Lá é possível encontrar os mais arrepiantes instrumentos de tortura mas segundo a crítica, o estudo museológico não superou a barreira do óbvio e primário e limitou-se a expô-los com explicações bastante básicas do que estava a ser observado, sem um tratamento transversal das matérias. Não há uma valorização das pessoas, mas uma vitimização, não há a explanação do seu modo de vida pegando nos mesmos objectos ou mesmo em outros que poderiam contar a história das comunidades, mas parte-se antes para uma condescendência e desdemocratização das comunidades ao retirar-lhes a possibilidade de tratamento semelhante ao que teriam “artefactos WASP” num “museu WASP”.
Em todo o artigo, o parágrafo que destaco é o seguinte:Este tipo de tratamento que veicula uma mensagem que pode não ser a mais adequada, o que veicula apenas uma mensagem não deixando aos visitantes a possibilidade de ter outras visões da história, é um pouco semelhante ao que se faz um pouco por todo o mundo com a reconstrução da História, da arte, numa tentativa desesperada de recuperar uma entidade perdida ou simplesmente de encontrar uma nunca tida. Umberto Eco no seu livro Viagem na irrealidade quotidiana descrevia a cultura vigente nos Estados Unidos como a cultura do falso. Da criação de ambientes em museus (uma linha da museologia que não segue a cronologia mas a semelhança de estilos), recriando cenas que nunca tiveram lugar, ou expondo obras que são cópias de originais já perdidos (por exemplo, uma estátua grega que nunca foi encontrada), ou versões mais pobres de obras que se encontram em outros museus como os (Girassóis de Van Gogh na National Gallery e os Girassóis de Van Gogh na Neue Pinakothek ). Embora se proceda sempre a uma identificação da peça reforçando a ideia de que não se trata do original, se o original está longe, ninguém se importa de ficar com a cópia. O mesmo acontece em qualquer museu europeu: se não posso levar aquele quadro de que tanto gosto, posso sempre comprar o postal, o tapete para o rato, o íman para o frigorífico. Mas pelo menos vi o verdadeiro. Talvez a questão do que é verdadeiro ou não resvale para o impertinente e pedante, mas se ao que falamos atrás juntarmos a reprodução de partes de cidades europeias em Las Vegas, ou a reprodução da Casa Branca em outras cidades dos Estados Unidos, ficamos com uma ideia de que a apologia do falso é não só resultante da falta de conhecimento, mas também do tratamento da informação. Contudo, não é só nos Estados Unidos que este fenómeno tem lugar: a Alemanha tenta reconstruir a sua imagem após duas guerras, recuperando para isso as suas cidades medievais, guerreiras e de certa forma, recuperarem uma identidade que já nada se adequa com o momento presente.
Dizia Walter Benjamim em "The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction” (obviamente não sei isto de cor):
Dizia Walter Benjamim em "The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction” (obviamente não sei isto de cor):
"For the first time in world history, mechanical reproduction emancipates the work of art from its parasitical dependance upon ritual. To an ever greater degree the work of art reproduced becomes the work of art designed for reproducibility. But the instant the criterion of authenticity ceases to be applicable to artistic production, the total function of art is reversed. Instead of being based on ritual, it begins to be based on another practise — politics."
1 Comments:
re-tratamentos e save-screams
chega a ser de gritos
a compreensão da escravatura está para além de qualquer compreensão...
e no entanto a "exploração do homem pelo homem" (a exploração do humano pelo desumano) continua por aí...
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