O tema deste ano do Porto Cartoon (exposição patente até 30 de Setembro no Museu da Imprensa, no Porto) era a Globalização. Note-se em primeiro lugar, o esforço: o esforço em manter o espaço digno para acolher as exposições e o público, o esforço em torná-lo visível, uma vez que a proximidade do Palácio do Freixo e a beleza deste último espaço poderiam ofuscar o museu em si, o esforço de uma instituição que fazendo parte da Rede Portuguesa de Museus faz também do Ministério da Cultura por derivação, não sucumbiu à modorra própria dos nossos museus, ou a uma localização que não é privilegiada, embora a vista o seja. Pesa muito neste caso a proximidade da marina. Note-se também que não é uma exposição imperdível nem um espaço para visitar com regularidade (não desfazendo), até porque não é particularmente convidativo: frio, com aspecto de ter sido um percurso e programa museológico feito por um amador, claustrofóbico. (Estas características não anulam as acima enunciadas; há um esforço louvável perante a inépcia nacional, mas não chega para fazer do Museu Nacional da Imprensa, um museu de referência.
Mas vamos à exposição em si. No geral, podemos dizer que a sensação é a mesma que temos quando estamos perante uma pessoa que vestiu toda a roupa que tinha por incapacidade de decidir o que vestir. A exposição é demasiado “longa” uma vez que nela estão trabalhos que declaradamente não pertencem à categoria principal (“Tema Livre”, por exemplo), e outros que mesmo pertencendo não deveriam ter sido seleccionados para a exposição, reduzindo-se esta e ficando a mesma mais concisa. Na minha opinião, mais crível. A proposta vencedora que ilustra este post, está bem conseguida e não sendo uma obra de arte a nível criativo, é bastante melhor que a maior parte das propostas apresentadas: quase todas confundiam globalização com hegemonização e ficando-se por aí, abordavam apenas uma parte do tema; várias repetiam-se nessa ideia de hegemonia mundial (quase sempre se caracteriavam pela passagem de um lugar para outro, sendo que dessa passagem resultaria a proliferação de seres iguais, com roupas iguais, com pensamentos iguais, com hábitos iguais). Também se abordou a globalização partindo das suas consequências: a proliferação das marcas (a MacDonald’s foi a mais visada) sem atender aos hábitos de cada povo. Mais uma vez viu-se a globalização como a subjugação dos países pobres aos países ricos. No tema livre foi possível ver de tudo (caricaturas, crítica religiosa, preocupações ambientais…), o que até não seria mau se não existisse tema principal ou se o espaço em si proporcionasse ao visitante a escolha entre a competição que se debruçava sobre o tema dado e a exposição de cartoons respeitantes ao tema livre. Não considero que uma seja melhor que outra, mas a mistura das duas é que não é benéfica nem para quem visita, nem para as obras e nem para o critério museológico em geral, se a alguém interessar.
1 Comments:
aonde tá o desenho?
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