- o carteiro -
Mulheres bonitas
Não é novidade. Alma Mahler foi uma grande mulher, pelo menos para mim. Casou com o compositor Gustav Mahler, com o arquitecto Walter Gropius e mais tarde com o escritor Franz Werfel. Depois e para desenjoar, teve um caso com Oskar Kokoschka. Ela descreveu os anos da relação dizendo que “foram uma única e violenta batalha amorosa”. Kokoschka imortalizou a sua perspectiva da relação no quadro “A Noiva do Vento” (que desde já devo dizer que detesto, até me dá vómitos, pelo simples facto de ter sido inspirado num quadro de El Greco). No quadro há uma tensão óbvia entre eros e tanatos. Não foi uma grande mulher por ter casado com eles, mas por ter sido amada por eles. Obviamente a beleza ajuda e Alma Mahler tinha sido bafejada pela mesma à nascença. Por vezes a beleza também desajuda. Dou três exemplos: Chan Marshall (aka Cat Power), Fiona Apple e Artemisia Gentileschi. Todas elas bonitas e talentosas (as duas primeiras são cantoras, a segunda era filha do pintor Orazio Gentilleschi, numa altura em que ser pintora era prerrogativa de senhoras ricas e com maridos liberais, ou de filhas de pintoras. Sofonisba Anguissola é um exemplo do primeiro caso, Artemisia, do segundo) e todas elas violadas. Artemisia passou por um processo em tribunal de contornos kafkianos: o suposto culpado acusou o pai da rapariga e a culpa acabou por morrer na pintora; aparentemente ela teria provocado e nunca se deixa um prato de leite na soleira da porta se sabemos que está lá um gato esfomeado. O quadro “Susana e os velhos”, um tema recorrente que geralmente é retratado de uma forma mais ligeira (apenas dois velhos a olhar para uma rapariga nua que toma banho), assume com Artemisia a forma de ameaça, de coacção. As outras senhoras continuam a cantar e com uma alegria (Cat Power. Será das ervinhas?) e uma doçura desafiadora (Fiona Apple) que nos deixam de cara à banda.
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