quinta-feira, agosto 10, 2006

- não vai mais vinho para essa mesa -
Guerra pelo telefone:

- Estou sim? Senhor Deus? Daqui é Alá.
- Estou?
- Sim Senhor Deus?! Estou a ouvi-lo muito mal.
- Quem fala?
- Alá, Dr. Alá.
- Ah Dr. Alá. Como vai? Já não o ouvia há um tempo… De férias?
- Eu bem queria, mas o povo e o governo não me deixam em paz.
- Então o que se passa? Não me diga que é o Líbano? Eu já disse ao meu primeiro que nós não temos nada a haver com isso.
- Ah isso é que temos!
- Ai não temos não. No meu programa para o MiMi nunca falei em mortes por mim. Aliás até fiz uma coisa muito curiosa que era a morte do meu filho por toda a gente. Já para evitar estas situações.
- Pois olhe, aqui como sabe não é assim, e o governo anda a fazer pressão comigo para eu resolver a guerra consigo o mais depressa possível.
- Comigo? Mas essa parte nem é minha. Já lhe disse como é que funcionava a coisa aqui: tenho secretários de Ministério para o Protestantismo, para o Catolicismo e para os Ortodoxos. O judaísmo… penso que é o YHVH. Não é comigo que tem de falar.
- YHVH? Mas isso é o quê?
- Acho que é uma sigla para designar o tipo com quem tem de falar. E olhe que lá eles também têm muitos ministérios e secretarias.
- Deram-me o seu contacto, e se é o Senhor Deus o responsável por todos esses secretários, nada melhor para me orientar. Assim não se perde tempo com intermediários.
- Mas olhe que não estamos a respeitar as hierarquias…
- Eles nem atendem o telefone!!!
- E vocês só desocuparam o vosso agora, não foi?!
- Pormenores.
- Bem, vou ver o que posso fazer, mas acho que eles não vão ficar satisfeitos por ter sido comigo que vocês falaram.
- Eles também fizeram a Conferência de Roma e não nos chamaram… Dê-me lá esse jeito.
- Oh caramba, é difícil ser adulado! Estou aqui na minha casa na Baía de Todos os Santos…
- Tem uma casa aí? Mas isso é um paraíso!
- Então e onde é que mora Deus, não é no paraíso? Durante o ano vivo no Céu, no Verão vou a uns paraísos. No ano passado estive em Petra.
- Mas isso é para os meus lados. Podia ter dito alguma coisa! Enfim, vai ajudar-me ou não?
- Era o que estava a dizer. Não tenho aqui o processo todo, mas vou dar um jeito. Só um momento que vou buscar a pasta dos conflitos político-religiosos. Mas olhe que isso não é matéria minha…
- Sim, eu espero.

- Estou sim?
- Estou estou, pode dizer.
- Dizer o quê? O Dr. Alá é que quer resolver o conflito. Eu estou bem arranjado! Esta chamada vai ficar pela hora da morte. O seu ministério sabe disto?
- Sabe, estou aqui no gabinete do meu primeiro. Ora bem, vamos ao que interessa… Israel quer mais um mês de guerra. Não podemos encurtar este tempo?
- É o que lhe digo, não tenho grande conhecimento do dossier. O que é que lhe posso dizer? Tem alguma coisa em troca para eu encurtar este período. Um mês de guerra mais o mês que passou dá dois meses. Parece-me bem, mas se tiver outra solução…
- Dois meses é muita coisa. Temos o apoio do Irão, da Síria…
- Esses não interessam. Dê-me um dos grandes.
- Temos o apoio da França.
- E a França interessa a alguém?
- Caramba Senhor Deus. Eu sempre pensei que Deus fosse francês!
- Já fui, mas depois, mal por mal preferi ser português que tem mais costa marítima.
- Dou-lhe a França e dá-me a paz daqui a três dias. Três não, quatro.
- Quatro porquê?
- Porque já há muitos contratos bélicos assinados. Podemos declarar a guerra acabada no papel e embargá-la na prática daqui a quatro dias. Vocês só ficam a ganhar.
- Ouça, fazemos assim: você dá-me a França e eu dou-lhe o Reino Unido e a paz daqui a quatro dias.
- O Reino Unido?
- Sim, esses tipos deixaram Israel um dia antes da proclamação do Estado Israelita. Merecem alguma responsabilização, não acha?
- Parece-me muito bem.
- E que mais temos pendente?
- Os panfletos lançados por aviões israelitas…
- Que foi agora?
- O meu primeiro pede para pararem.
- Pararem? Então uma pessoa está a dar-vos informação, em árabe, veja bem. Acho que isso já mostra a nossa boa vontade em resolver as coisas. Podíamos bombardear-vos e não avisar, ou avisar na nossa língua. Mas não, até vos fizemos o favor de traduzir as datas e as horas. Depois vinha o pessoal dizer “Estes tipos vêm para aqui, não avisam. E a gente não sabe”.
- Então não vão parar com os panfletos?
- Podemos lançar outros…
- Quais?
- Lançamos panfletos do MacDonald’s e não se fala mais disso.
- Está fechado.
- Mais alguma coisa?
- Como é que fica a situação?
- Como assim?
- Senhor Deus, ali à volta os povos são árabes muçulmanos, há poucos católicos...
- Eu bem lhe disse que a minha especialidade era Novo Testamento. Para questões sobre o Antigo Testamento vai ter que falar com o Dr. YHVH.
- Então quando a guerra acabar como é que as coisas ficam? Como é que ficam as fronteiras, como é que fica a soberania da Palestina?
- Não podemos deixar isso em stand-by?
- Isto está em stand-by há 50 anos!!!
- O problema é que esta gente tem ministros novos: na Palestina, em Israel, no Líbano, no Irão… Uma guerra vem mesmo a calhar para se definirem posições. Tem a certeza que quer acabar com a guerra agora?
- Tem mesmo de ser. O povo está a sofrer.
- …
- Senhor Deus?
- É que isto estraga-me as férias de uma maneira que nem queira saber! Até já estou agastado, tenho de tomar um Rennie.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Inteligente, sarcastico e acutilante!!!

A menina é a crida mais inteligente culta e renascentista que eu conheço!! :-)

Abaixo o Estado de Israel!

Viva a Palestina e todos os povos beligerantes adjacentes!

Vivam as pilas àrabes que são as melhores!!!

Abaixo os carrapitos judaicos os shabats e todos os judeus do MArais!!!!

Vivam os arabes de Strasbourg St-Dennis!!

11/8/06 2:20 da manhã  

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