segunda-feira, abril 03, 2006

- não vai mais vinho para essa mesa -

- Vou embora.
- Não dramatizes. Se já disseste que ías, vai.
- Não me pedes para ficar?
- Porque é que havia de pedir?
- Por tudo aquilo que existiu entre nós.
- Disseste que ias.
- Mas posso ficar.


Vilhelm Hammershøi
Interior
1899
National Gallery, Londres

- Não dizes nada?
- Não. Tenho muito que fazer.
- Tens o que fazer? E nem te voltas para falar comigo.
- Baixo! O miúdo está na sala ao lado.
- Quero lá saber! E ele? Achas que ele não sabe? Não notas que anda sempre pelos cantos como um cão com medo.
- Ou como um lobo à espera.
- Ele não é o problema. O problema é a tua recusa, as tuas costas voltadas.
- Não tenho nada para dizer.
- Nem por ele?
- Não o metas nisto.

Vilhelm Hammershøi
Interior with young man reading
1898
The Hirschsprung Collection

- Nisto o quê?
- Não sei. Tu é que estás de saída.
- É impossível falar contigo.
- Nunca tentaste.
- Estou a tentar!
- Tenho de trabalhar. Não tenho tempo para isto.
- Então tens tempo para quê?
- Como assim?
- Se não for isto que te faz voltar as costas, será o quê? Vais viver sempre nessa recusa?
- Enquanto puder…
- Porquê?
- Para não me magoar. Para não me magoares.
- Para não viveres!
- Fecha a porta quando fores.


Vilhelm Hammershøi
De fire stuer
1914
Ordrupgaard, Dinamarca

- O diabo te leve! Eu disse para fechares a porta!