- mãe, a maçã tem bicho -
Caravaggio
Supper at Emmaus (pormenor)
1600-1601
National Gallery, Londres
Eu até estava aqui com os meus botões, a colocá-los nas devidas casas, a fazer de conta que esta história me passava ao lado, mas achei que tinha de falar. Primeiro, porque a capacidade de afectação em número de indivíduos deste blog é semelhante ao de uma janela de casa de bairro social (só dá para o vizinho da frente e meia dúzia de pessoas já conhecidas); segundo porque o blog é meu e escrevo nele o que me apetece; terceiro porque como leitora exigente que sou, vejo-me obrigada a opinar sobre o assunto.
Que Margarida Rebelo Pinto tem um défice de inteligência na escrita, é verdade, como se pode ver na falta de rasgo dos seus parágrafos (que leio à socapa e aleatoriamente nas Fnac’s deste país), que muito ficam a dever à riqueza da língua em que escreve. Porém também é verdade que a editora deixa passar em branco esses erros e que o público não os nota ou parece não se importar com os mesmos. O que me faz escrever nesta história, não são os textos detestáveis da “escritora”, a roçar a escrita de uma adolescente burguesa, a braços com a roupa que vestir, os desejos de possuir todos os homens do mundo, as borbulhas (neste caso, rugas) e a desobediência do corpo perante a senilidade. O que me faz mexer os dedinhos no teclado é a consciência de que o mundo que a “escritora” habita é muito real, isto quando relativizado; ou seja, é um universo comandado pela facilidade; é ver que finalmente alguém partilha da minha opinião (ou eu partilho da opinião de alguns milhares de portugueses) de que os seus livros e as suas crónicas não têm uma frase que possa inspirar sequer a compaixão porque não revelam a mínima humildade. O que me deixa menos satisfeita, se é que isso interessa a alguém, é saber que foi preciso um homem ler todos os livros da senhora para escrever o seu livro. Isso é o que se pode considerar uma obra a entrar para o rol de “coisas que fazemos e que depois são deduzidas na pena do inferno”. Também me entristece a forma como a comunidade pactua com algo que é manifestamente mau – não estamos a falar apenas de estética, mas também de ética, não apenas de bonito ou feio, mas de bem e de mal. Entristeceu-me ver como foi concedido a Margarida Rebelo Pinto (e a Paulo Coelho, para citar outro exemplo), espaço em revistas, e jornais (no caso da crónica de Domingo no Jornal de Notícias, espaço demasiado para tudo aquilo que a escritora tem para ecrever, que na realidade é muito pouco) e no meio literário, tão severo e impermeável à divulgação de bons autores e tão permissivo com determinados nomes.
Legitimou-se assim e deu-se desta forma a vitória à forma em detrimento do conteúdo. Não necessitamos de ouvir e ler todos as mesmas coisas, mas necessitamos de espaços diferentes em que estas são tratadas. Não vou espezinhar mais, até porque não fui eu que levantei a questão. Muito se espezinhará em outros blogs, mas tudo o que ultrapasse uma página A4 é uma folha da coroa de louros da senhora.
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