quinta-feira, junho 25, 2020

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como "não sei bem se isto é um antes e depois" ou como "também pode ser um 'durante'. Sorolla, de quem nunca falei muito aqui no belogue, queria ser "big in Japan". Na altura era mais "big in the USA" já que Sorolla teve, desde 1909, uma grande aceitação por parte do público americano. o próprio Sorolla, após abandonar a pintura "social" (de temática mais funesta como o infanticídio, a deficiência física ou a pobreza material), dedicou-se a pintar figuras da sociedade espanhola e americana. aliás, Sorolla percebeu que por melhores que fossem as suas pinturas "sociais" e por mais que estas dessem a conhecer o seu trabalho e a vida de uma cidade espanhola (com todas as suas curiosidades, apetecíveis para um público urbano e não familiarizado com elas), ele nunca conseguiria ter o tipo de reconhecimento que lhe interessava através delas; ou seja, ser uma celebridade, ser famoso. dedicou-se por isso a temas mais suaves, nos quais se destaca sempre a luz da sua Valência, o que resultou em pinturas das quais emana uma joie de vivre que por vezes vemos nos impressionistas franceses. Sorolla usava aliás a técnica/prática da pintura en plein air, o que, no caso de alguém que pintava cenas de banhos na praia, levou a que muitos grãos de areia se tivessem fixado na superfície dos quadros. Em 1910 a Hispanic Society of America propõe a Sorolla a comissão de uma pintura que seria, para a época, a maior pintura encomendada a um artista não americano. Tratava-se um mural para a Biblioteca da Hispanic Society. Em resposta a esta proposta Sorolla estuda a possibilidade de executar uma pintura por cada província de Espanha. Sorolla de facto executou esse conjunto de obras - com um resultado final muito diferente do esperado dos desenhos preparatórios. Na sequência desta comissão, e para dar seguimento à sua ideia, Sorolla, empreende um périplo pelas províncias espanholas, para lhes perceber o espírito (juntamente com um fotógrafo que capta as diferentes profissões e actividades nos seus trajes típicos). Este mural é por isso, e em vários sentidos, uma construção. Mais ou menos como ir a Viana, tirar fotografias com as mordomas e voltar para o país natal a dizer que é assim que se vive no Norte de Portugal. Sorolla tem por vezes de levar os fatos para que alguém os vista e pose para o fotógrafo ou para o pintor. Talvez por isso Sorolla tenha feito batota, repetindo fatos e pessoas em cenas diferentes. Veja-se a pintura para Salamanca:















Joaquín Sorolla
Couple from Salamanca
1912

Museo Sorolla, Madrid

A mulher apresenta-se como uma jovem noiva da província de Salamanca. Mas Sorolla, que devia estar com falta de modelos, utiliza a mesma jovem noiva, com o mesmo regozijo pela celebração (como ela, só a princesa Charlene do Mónaco...) para retratar a comunidade autónoma de Castela e Leão, onde se localiza Salamanca. Lá está ela, com a mesma alegria de quem vai para o cadafalso:"









Joaquín Sorolla
Castilla or Bread Festival
1913

The Hispanic Society of America, Nova Iorque

E assim acontece. Tenham cuidado com as mudanças de tempo, endireitem as costas enquanto lêem (dizem agora que não tem acento, mas para mim tem) isto e lavem os dentes antes de deitar.