terça-feira, março 05, 2019

- o carteiro -

gente que sabe como festejar o carnaval

houve um tempo em que as festas eram festas a sério. lembro-me da Callas no iate do Onassis, da Grace Kelly a dançar a Conga na festa dos 40 anos da Elizabeth Taylor, do Baile de Inverno da família imperial russa em 1903... isso sim, era carnaval. não sei porquê, mas tudo isso me leva à "Senhora de uma certa idade" dos Divine Comedy, e à passagem de um tempo a outro (o que me leva a'O Leopardo do Visconti que por sua vez me leva a pensar que admiro sempre tempos que não são os meus, tal como toda a gente. só estamos bem onde não estamos.). Isto para dizer que se houve gente que soube festejar um carnaval em estilo, essa gente assistiu certamente a um festival délfico. Realizaram-se dois: um em 1927 e outro em 1930, ambos organizados pelo casal Eva e Angelos Sikelianos. Ele era um poeta e estudioso dos textos da Antiguidade que chegou a estar nomeado para o Prémio Nobel da Literatura. Ela era de Nova Iorque e na realidade, não tinha profissão. Casou com Angelos - não foram felizes para sempre - talvez porque partilhasse com ele o gosto pela Antiguidade Clássica. Os festivais délficos eram uma espécie de festas hippie antes do movimento hippie nos anos 60. Digo isto pois na sua origem, Eva e Angelos queriam que nestes festivais sobressaísse o espírito de entreajuda, de comunidade e de solidariedade. E que melhor local do que Delfos para tal? Delfos havia sido o berço da anfictionia; ou seja, uma comunidade de origem religiosa que reunia vários povos antes mesmo da constituição das cidades-estado e da pólis. Por isso os festivais délficos, realizados no local onde hoje encontramos as ruínas de Delfos (e que já existiam nessa altura, claro), eram dedicados a Apolo (como a Apolo era dedicado o principal templo do espaço onde se encontrava o famoso oráculo de Delfos). Por isso também estavam focados e direccionados para a música e as artes em geral (teatro, performance, artesanato…). As pessoas vestiam-se a rigor, na sua melhor toga e durante dois ou três dias assistiam a cursos, visitavam as ruínas acompanhadas de arqueólogos, comiam, cantavam, participavam e assistiam a peças de teatro, enfim… uma festa. O que é notável é o esforço colocado nisto e, acima de tudo, o estudo da Antiguidade Clássica que levava a que fosse possível obter imagens como esta:



















tenho quase a certeza que a imagem acima surge após esta, que, embora eu não saiba identificar, me parece ser de um vaso grego. Se alguém souber de onde é, basta dizer:



















beijinhos às famílias e cuidado com as bowls de açaí pois têm muito açúcar.
vá, xixi-cama.