quarta-feira, janeiro 18, 2017

- ars longa, vita brevis -
Hipócrates

"antes e depois" ou como gostava de compreender qual o encanto do Poussin. a sério que gostava. tive discussões com pessoas... conhecedoras... acerca do Poussin e não consegui compreender que que é que o Poussin possa ter sido importante. Ainda continua à procura de uma resposta nos livros, nos textos, já que nas imagens não encontro.

e o calor que não chega...

bem, hoje trago-vos o Ticiano e o Poussin. Por volta de 1520, Ticiano trabalhava para a corte de Ferrara, dominada pelos Este e, como bem o testemunha este quadro, estava "numa" de temas báquicos". Estávamos perante o Ticiano da fase "clássica" com cores ricas, vibrantes, mas poses formais. Aliás Ticiano não inventa nada de novo: a escolha das personagens, das suas expressões é fruto de textos clássicos (Ovído, por exemplo). A história desta tela é simples: Ariadne, filha do rei de Creta amava Teseu que ajudou a escapar da labirinto criado pelo seu pai (labirinto do Minotauro), através do fio de Ariadne. No entanto Teseu (esse grande ímpio), deixou-a, livrou-se dela na ilha de Naxos, quando estavam a regressar a Atenas. Aí, Ariadne tornou-se amante de Baco o que, ou diz muito da moça, ou da mitologia clássica em si... Nesta cena vemos Ariadne representada já com a coroa de estrelas (Corona Borealis), do lado esquerdo, numa pose que equilibra a de Baco, em total desalinho e desequilíbrio. A cena parece caótica com muita gente, mas é caótica pelo movimento exagerado dos corpos, todos eles em poses difíceis, em esforço.

















Ticiano
Bacchus and Ariadne
1520-22
National Gallery, Londres





















Ticiano
Bacchus and Ariadne (pormenor)
1520-22
National Gallery, Londres


Cerca de um século mais tarde o pintor francês Poussin vai buscar a mesma pose de Baco e adapata-a a outra personagem da mitologia clássica: Céfalo. A história é semelhante à de Baco e Ariadne: Aurosa, deusa da Madrugada - se assim lhe quisermos chamar, apaixona-se pelo mortal Céfalo e tenta seduzi-lo. Ele no entanto só consegue pensar na sua esposa Procris e rejeita a deusa. Até parece que lhe está a dizer "deslarga-me porca". Poussin usa aqui uma artimanha para justificar o repúdio de Céfalo face a Aurora: coloca o putti a segurar um retrato de Procris de forma a que o marido não possa esquecê-la, mesmo face às investidas de Aurora. De facto, este detalhe não está incluído numa das fontes literárias do tema: as Metamorfoses de Ovídio. Neste caso, a pose da personagem não está relacionada com a agitação, o vigor, a festa dos sentidos, mas antes com a repulsa e o desprezo, dois sentimentos pouco nobres para acabar este post. mas a vida é assim...














Poussin
Cephalus and Aurora
1630
National Gallery, Londres





















Poussin
Cephalus and Aurora (pormenor)
1630
National Gallery, Londres