sexta-feira, fevereiro 08, 2008

- o carteiro -
"outro post chatinho?", "é a continuação", "é, pode ser, mas não deixa de ser chatinho", "não é assim tão chatinho", "ultimamente está tudo muito chatinho aqui. não há papel de parede, sempre o mesmo decor, sempre as mesmas rubricas, sempre a mesma arte até ao pós-modernismo e já é uma sorte...", "oh, fuck off":
Na nossa cultura mediterrânea o desenvolvimento dos edifícios sagrados tem estado dotado de uma conotação simbólica que obriga à existência de ideias muito concretas acerca da relação entre o Homem e o cosmos. É o caso dos templos escalonados ou das cúpulas funerárias. No primeiro caso nota-se a presença das crenças que os antigos teriam acerca da existência de diversas esferas planetárias. No segundo, os edifícios de tipo funerário dotados de cúpula tendiam a facilitar a ascensão da alma do defunto e conferiam a esperança de renascimento trazida por essa ascensão. A alma passava por vários céus ou esferas celestes sobrepostas, que estariam em consonância com as diferentes hierarquias de espíritos existentes, assim como com as diversas etapas pelas quais devia passar a alma no seu processo de purificação.

O templo terreno e sacro – não apenas religioso – deveria ser uma evocação do templo de Jerusalém celeste, de forma quadrada e que é retratado no Apocalipse nos capítulos 21 e 22. A ordem de construção teria sido dada por uma entidade superior e celeste, tal como acontece um pouco por todo o Antigo Testamento (são exemplos disto a construção da Arca da Aliança, cujas indicações foram transmitidas por Deus aos seus construtores. O Livro do Apocalipse teria sido redigido tendo como base o testemunho um anjo. A passagem que retrata a construção de Jerusalém não é uma descrição da mesma, mas antes uma descrição do templo já depois de ter sido edificado. A geometria divina serviu mais tarde os interesses maçónicos. No decorrer do trabalho realizado na loja maçónica o compasso e o esquadro são colocados sobre a Bíblia em forma de cruz. Assim colocados são designados de “as três luzes maiores”. Por outro lado, na cosmologia pitagórica cristã, Deus é o arquitecto de uma ordem perfeita em que o amor fraterno é a medida de todas as coisas. Segundo esta visão o nosso corpo era também a matéria-prima de Deus, ele era o arquitecto, e o corpo humano, o templo. “(…) Porque nós outros somos cooperadores de Deus: vóis sois agricultura de Deus, sois edifício de Deus (…)” (Coríntios, 3, 9-11:). Estas descrições são relevantes para a compreensão das tendências arquitectónicas rivais da Idade Média e do Renascimento personificadas por Babel e Jericó respectivamente (a construção de Babel não se concretizou por causa de um problema de linguagem. Foi a fala que tornou Babel uma tragédia. Ao utilizar a língua para confundir e dispersar o povo, o Antigo Testamento abre a hipótese de o Senhor ter utilizado a escrita misturando assim os fonemas da língua ocidental com as representações ideográficas da língua oriental, ou seja, uma escrita na vertical (a escrita ocidental de sons é feita na horizontal e escrita de imagens é feita na vertical). Na Idade Média, o pensamento arquitectónico assumiu, como Babel, um sentido vertical que mostrava a relação Deus-Homem. No caso de Jericó, foi o som que alertou para a destruição da cidade (“E quando ouvirdes um longo clangor do corno do carneiro e o som das trombetas crescer e vós o escutardes, todo o povo interromperá em grande clamor; e a muralha da cidade desabará. Então o povo subirá para a cidade, cada um seguindo o que lhe ficar em frente” Josué 6:5). Podemos estabelecer uma correspondência entre os edifícios da renascença que seguem uma orientação horizontal e a descrição bíblica da cidade de Jericó).