- mãe, a maçã tem bicho -
Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neues Palais, Potsdam
A filha do cantor Lionel Richie foi internada devido ao seu baixo peso e numa tentativa de recuperá-lo. Como ela, muitas pessoas de todas as idades e ambos os sexos são todos os dias internadas para tratamentos de doenças do comportamento alimentar. Tal como o próprio nome indica, tratam-se de doenças relacionadas com a comida, ou com a falta dela, e acima de tudo, de doenças de foro psiquiátrico que como outras, como a toxicodependência por exemplo funcionam por adição. Bono Vox, o vocalista do grupo U2 já condecorado por Jorge Sampaio (quem não foi?) e proposto para o Nobel da Paz veio há pouco tempo a público proferir declarações acerca da subnutrição que só provam que a sua condecoração foi um exagero, a sua nomeação para o Nobel da Paz uma piada, e a importância que lhe dão, um fait divers para reabilitar personagens esquecidas e outras que tiveram pouca sorte. Bono disse numa das visitas humanitárias que costuma fazer a países onde o principal problema é a subnutrição que uma das crianças a quem tinha oferecido alimentos se tinha negado a recebê-los e quando indagado porquê terá respondido que seria preferível dá-los à filha de Lionel Richie pois esta estava muito mais precisada.
Esta anedota contada por Bono para além de ser de um extremo mau gosto, só vem dar mais uma vez razão aos que pensam que a Bono “falta um bocadinho assim” para poder ser levado a sério nas suas considerações. Esclareçamos pois Bono:
1) A subnutrição voluntária – chamemos-lhe assim por oposição à involuntária de que Bono parece querer ser, se não o único porta voz, pelo menos o que fala mais alto -, é tão antiga quanto a involuntária. Sempre houve gente que não comia não somente por questões estéticas, mas muitas vezes religiosas e sociais. Diria até políticas, como forma de protesto contra uma situação com que não se concorda. Ainda que Bono se fique pelas estéticas, teremos de lhe dizer que não são apanágio deste tempo.
2) A subnutrição voluntária é uma doença que talvez não careça das vistas de Bono a hospitais, mas pede o seu silêncio em situação de desconhecimento da causa.
3) As pessoas que optam por este estilo de vida (numa primeira fase e de morte depois porque não há mais opções ou porque elas não se aclaram) fazem-no conscientes do que acontece no resto do mundo, sentem-se mal consigo e com os dirigentes que têm pela falta de altruísmo e de senso comum. O que desejam para os outros nem sempre é o que desejam para elas e não porque desejem mais ou melhor; desejam "diferente".
4) Não suba o sapateiro acima da chinela. Que Bono cante e que viste hospitais, campos de refugiados e que propale bem alto a miséria do que vê e o laxismo de quem pode fazer algo, que denuncie os interesses económicos na continuidade da situação, que apresente números. As pessoas são levadas a sério nas suas considerações com uma estatística na ponta da língua. Mas que Bono leve sempre para as suas conferências uma enciclopédia médica. E que a leia.
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