segunda-feira, março 20, 2006

- ars longa, vita brevis -
Hipócrates


“Escusado seria dizer que Mr. Mawhinney era cristão, membro de longa data da esmagadora maioria que combateu na Revolução e fundou a nação, conquistou a imensidão selvagem, dominou os Índios, escravizou os Negros, emancipou os Negros e segregou os Negros, um milhão de homens bons, puros e trabalhadores que povoavam a fronteira, lavravam os campos, construíram as cidades, governavam os estados, tinham assento no Congresso, ocupavam a Casa Branca, acumulavam a riqueza, possuíam a terra, eram donos das fábricas de aço, e dos clubes de basebol, e dos caminhos-de-ferro, e dos bancos e eram até donos e fiscais da língua, era um daqueles inatacáveis protestantes nórdicos e anglo-saxões que dirigem e sempre dirigirão a América – generais, dignitários, magnatas, manda-chuvas, os homens que ditavam a lei, e punham e dispunham, e pregavam sermões quando lhes apetecia – enquanto o meu pai, evidentemente, era apenas um judeu.”
(in A Conspiração contra a América, página 112)

“- Hitler – ouvi-o dizer -, Hitler não é vai tudo bem, como de costume, rabi! Esse louco está a travar uma guerra como as de há mil anos. Uma guerra como ninguém jamais vui neste planeta. Conquistou a Europa, Está em guerra com a Rússia. Todas as noites transforma Londres em ruínas com os seus bombardeamentos e mata centenas de inocentes civis britânicos. É o pior anti-semita da História. E, apesar disso, o seu grande amigo, o nosso presidente, acredita na sua palavra quando Hitler diz que têm um «acordo». Hitler tinha um acordo com os Russos. Respeitou-o? O objectivo de Hitler é conquistar o mundo, e isso inclui os Estados Unidos da América. E como em todos os lugares aonde vai abate judeus, quando chegar o momento oportuno virá matar os judeus daqui.”
(in A Conspiração contra a América, página 129)

“Pois infelizmente também existe ignorância entre judeus, muitos dos quais persistem em pensar que o presidente Lindbergh é um Hitler americano, quando sabem muito bem que ele não é um ditador que chegou ao poder graças a um putsch, mas sim um líder democrático que chegou a presidente graças a uma vitória esmagadora em eleições livres e justas e não manifestou uma única tendência para governar autoritariamente. Ele não glorifica o Estado a expensas do indivíduo; pelo contrário, encoraja o individualismo empreendedor e um sistema de economia livre isenta da interferência do Governo Federal. Onde está o estatismo fascista? Onde está o banditismo fascista? Onde estão os Camisas Castanhas nazis e a polícia secreta? Alguma vez viu uma única manifestação de anti-semitismo fascista emanada do nosso Governo? O que Hitler perpetrou contra os judeus da Alemanha com a aprovação, em 1935, das Leis de Nuremberga é a antítese absoluta do que o presidente Lindbergh se empenhou em fazer pelos judeus da América com a criação do Gabinete Americano de Assimilação. As Leis de Nuremberga privaram os judeus dos seus direitos de cidadãos e fizeram tudo para os excluir de membros da sua nação. O que eu encorajei o presidente Lindbergh a fazer foi a criação de programas convidando judeus a integrar-se tanto quanto quiserem na vida nacional, uma vida nacional que, estou certo, deve concordar, não é menos nossa, para a usufruirmos, do que de quaisquer outros.”
(in A Conspiração contra a América, página 131)

“Como não estava, atrevi-me a descer a escada, passei a correr pelo espremedor e à volta dos canos, e uma vez à janela e em bicos de pés – com a intenção, apenas, de olhar para a rua como ele olhara -, descobri que a parede caiada por baixo da vidraça estava escorregadia e molhada com um líquido viscoso qualquer. Como não sabia o que era a masturbação, é claro que também não sabia o que era ejacular. Pensei que fosse pus. Pensei que fosse mucosidade. Não soube o que pensar, a não ser que devia tratar-se de alguma coisa terrível. Na presença de uma espécie de descarga ainda misteriosa para mim, imaginei que fosse alguma coisa que se infectava no corpo de um homem e depois supurava pela sua boca quando a dor o consumia por completo.”
(in A Conspiração contra a América, página 172)

“A resposta de Lindbergh veio alguns dias depois: vestiu o seu fato de piloto Lone Eagle e, numa manhã cedo, levantou voo de Washington no seu bimotor Lockheed Interceptor para se encontrar frente a frente com o povo americano e assegurar-lhe que todas as decisões que tomava eram concebidas única e exclusivamente para lhes reforçar a segurança e garantir o bem-estar. Era isso que fazia quando a mínima crise surgia: voava para cidades de todas as regiões do país – desta vez, quatro e cinco num só dia, graças à fenomenal velocidade do Interceptor, e fosse onde fosse que o seu aparelho aterrasse tinha à sua espera os figurões importantes locais, uma quantidade de microfones de rádios, assim como os correspondentes do serviço telegráfico, os repórteres da cidade e os milhares de cidadãos que se tinham reunido para verem o seu jovem presidente com o seu famoso blusão de voo e capacete de cabedal.”
(in A Conspiração contra a América, página 207)

“- Na Alemanha, Hitler tem, pelo menos, a decência de proibir a entrada de judeus no partido nazi. Isso e as braçadeiras, isso e os campos de concentração, e pelo menos é evidente que porcos judeus não são bem vindos. Mas aqui os nazis fingem convidar os judeus para entrar.”
(in A Conspiração contra a América, página 215)

“Ao passarem, a mais alta das freiras sorriu-me da coxia e, com uma vaga tristeza na voz serena – talvez porque o Messias chegara e partira sem eu dar por isso -, observou à companheira: «Que rapazinho engraçado e tão bem arranjadinho.»
Se ela soubesse no que eu tinha estado a pensar… E daí, talvez soubesse.”
(in A Conspiração contra a América, página 243)

“E Sandy encontrava-se agora no quarto, onde eu fingi estar a dormir enquanto ele se preperava para se deitar à luz velada do pequeno candeeiro de interruptor de alavanca que ele fizera a partir do nada na aula de Trabalhos Manuais, no tempo em que era apenas um rapaz com dotes artísticos, absorvido naquilo que conseguia fazer as suas próprias mãos hábeis e abençoadamente não contaminado por lutas ideológicas.”
(in A Conspiração contra a América, página 265)

“Recordo hoje as linhas de poesia explendidamente sucintas que o meu encontro com Evelyn me trouxe à memória, naquela noite. A poeta é Elisaberth Barrett Browning e as palavras com que inicia o décimo quarto dos seus Sonnets from the portuguese encarnam uma sabedoria feminina exactamente como a que vi emanar dos olhos espantosamente escuros e belos de Evelyn. «Se haveis de amar-me» escreveu Mrs. Browning, «que não seja por nada/ senão por mor apenas do amor…»”
(in A Conspiração contra a América, página 283)

“Primeira, um artigo de primeira página do Chicago Tribune, datado de Berlim, relata que o filho de doze anos do presidente e de Mrs. Lindbergh – a criança que se acreditava ter sido raptada e assassinada em New Jersey, em 1932 – se tinha reunido ao seu pai em Berchtesgaden depois de ter sido resgatado pelos nazis de uma masmorra em Cracóvia, na Polónia, onde fora mantido prisioneiro no gueto judeu da cidade desde o seu desaparecimento e onde, todos os anos, era retirado sangue ao menino cativo para ser usado na preparação ritual do matzohs pascais da comunidade.”
(in A Conspiração contra a América, página 357)

“- Acaba com isso! – gritei. – Já chega! – Mas o Joey estava a saltar alegremente e, por isso, eu arranquei o auscultador da orelha e fiquei momentaneamente baralhado, a pensar que, como se não bastasse o mayor La Guardiã estar preso, e o presidente Roosevelt estar preso, e até o rabi Bengelsdorf estar preso, o novo rapaz do andar de baixo não ia ser mais pêra doce do que o seu antecessor, e foi então que decidi fugir de novo. A minha experiência com as pessoas ainda era muito pequena e não me permitia compreender que, a longo prazo, ninguém é uma pêra doce, nem eu próprio.”
(in A Conspiração contra a América, página 392)

“Setembro-Dezembro de 1941. Faz o seu discurso radiofónico “Quem são os agitadores da Guerra” a um comício do América First em Dês Moines, em 11 de Setembro…”
(in A Conspiração contra a América, página 423)

“Fevereiro de 1933. Quase único entre os comentadores públicos e judeus bem conhecidos, começa a atacar publicamente Hitler e os nazis americanos, incluindo o líder da Bund, Fritz Kuhn; prossegue o ataque na rádio e na sua coluna até ao deflagrar da Segunda Guerra Mundial; inventa os neologismos «razis» e «swastinkers» para ridicularizar o movimento nazi.”
(in A Conspiração contra a América, página 428)

“(…) Posteriormente perde o resto do apoio democrata de Montana e é derrotado na campanha das primárias de 1946 para o Senado pelo jovem liberal de Montana, Leif Erickson.”*
(in A Conspiração contra a América, página 432)

*O nome Erickson refere-se ao islandês conhecido como o primeiro europeu a descobrir a América do Norte, Canadá. Era filho de Eric, o Vermelho (daí Eric+son= filho de Eric)