[consulta]
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eu - Isto acontece-me mais no Verão...
psiquiatra - Você muda com o tempo? Não a sabia tão susceptível...
eu - Não, espere. Vai compreender. No Verão dou por mim a comparar-me com todas as mulheres. Altas, baixas, magras, gordas... Em todas vejo encantos que me faltam. Às vezes até entro em lojas para ver como elas são giras. Comparo-me com todas, mas principalmente com miúdas de 19 anos. É destrutivo e cansativo. Chego ao fim do dia a achar-me uma merda embora saiba que não sou uma merda e que as pessoas não são só o físico. Desculpe por ter dito "merda", mas acho que já usamos esta palavra aqui. Os dois. Portanto estou desculpada, certo?
psiquiatra - Está desculpada. Mas não tem 19 anos....
eu - Pois não, mas penso "como é que alguém pode querer estar comigo quando há lindas miúdas de 19 anos, com tudo no sítio?".
psiquiatra - Eu acho que não há muitos homens com alguma idade a querer dar voltas com miúdas de 19 anos.
eu - Pois eu cá acho que há!
psiquiatra - Talvez, mas para relações sérias não escolhem miúdas de 19 anos.
eu - E quem é que quer ter relações sérias? Hoje toda a gente quer dar voltas. Não quero dar voltas; não sou um hamster...
psiquiatra - Ainda há pessoas que querem relações sérias.
psiquiatra - Ainda há pessoas que querem relações sérias.
eu - É preciso ter sorte, ter muita sorte.
psiquiatra - Muita sorte geralmente é batota.
eu - Como assim?
psiquiatra - É possível que uma pessoa tenha muita sorte uma vez. Ganhe o euromilhões uma vez, mas duas já é estranho. Também se está a ganhar sempre pequenos prémios é estranho.
eu - E em que é que isso se aplica ao que estamos a falar?
psiquiatra - A sua história nesse âmbito não é só uma questão de sorte ou de azar. Não pode dizer "ei caramba, sou uma azarada". Não. Também é um percurso que você traçou. Não quer menos do que aquilo que estipulou para si. Não quer... dar voltas. É uma escolha válida como qualquer outra e muito apreciável, na minha opinião.
"Doidas, doidas, doidas
ResponderEliminarandam as galinhas..."
Olá beluga
ResponderEliminarnão sou galinha, nem doida. pelo menos não nesse sentido depreciativo. Se "de génio e de louco todos temos um pouco", então sim, sou louca. Ter um psiquiatra no entanto não faz de mim louca, embora muitas pessoas pensem que sim, ou que isso é um sinal de fraqueza emocional. quem me garante, quem nos garante, que as pessoas com quem nos cruzamos todos os dias não sejam mais loucas do que nós? pessoas aparentemente equilibradas, normais têm a sua catarse: há quem beba, há quem se drogue, há quem seja viciado em sexo ou no jogo, há quem compre compulsivamente, há quem entre em negação. isso parece-me tão digno de um tratamento psiquiátrico como qualquer outra patologia. Claro que a psiquiatria tornou-se uma galinha de ovos de ouro para a indústria farmacêutica. As doenças de hoje são essas: as psiquiátricas, em parte originadas pelas expectativas exageradas que temos. Mas estaremos mesmo deprimidos, ou seremos bipolares? Isso não será antes uma forma de elevar a doença sentimentos que todos nós temos e desta forma, criar medicamentos para os mesmos?
e aqueles que estão lá dentro, internados, não diferem em nada de nós. são pessoas abandonadas pela sorte (a quem um filho morreu e porque não sabem ou não querem aceitar, não se levantam. quem pode censurar?), abandonadas pela família (lembro-me de ver pessoas que não recebiam visitas de familiares ou amigos durante semanas consecutivas), abandonadas pelos médicos (que as punham completamente medicadas a ponto de não abrirem os olhos), abandonadas pelo SNS (que as infantiliza com uma hora diária de actividade ao ar livre ou dentro de portas. dentro de portas a actividade era constituída por colagens e coisas do género). lembro-me de uma moça que conheci lá: era um pouco triste, acho que com uma depressão. Os pais não a visitavam com frequência. Uns anos mais tarde vi o nome dela no jornal, na necrologia. acho que se suicidou.