terça-feira, junho 28, 2016

- não vai mais vinho para essa mesa -

[1]
eu - desculpe, será que podia pôr os olhos nas minhas coisas enquanto vou ao quarto-de-banho?
ela - bocê é portuguesa?
eu - sim...
ela - se soubesse já tinha metido cumbersa consigo
eu - posso ir então?
ela - bá, bá descansada queu boto os olhos.
eu - obrigada. é rápido.
...
ela - bocê bai pra Portugal?
eu - vou sim.
ela - ah... intão num se importa de m'ajudar? é qué a primeira bez que eu e o meu marido andamos d'abião. Biemos aqui prá comunhão d'uma netinha!
eu - pois...
ela - mas estaba a ber que num bínhamos. Eu binha, o meu marido é que não.
ele - por causa do BI. Estaba fora do prazo. Mas num habia problema porque a fronha é a minha!
ela - Oh, tem juízo! Despois mais 90 euros pró "xéqui" ou lá o que é isso. Aperguntaram: "bocês tenhaindes "xéqui"? A gente num tinha, pimba, mais 90 euros!
ele - estaba fora do prazo mas eu fui tirar outro. Quinta-feira tá pronto, aqui na minha mão!
ela - Adiantaba muito! Era preciso era pr´ágora.
ele - Ó mulher, lebas uma lambáda!
ela - xiu, cala-te qu'inda pensam qu'és meio defi.
ele - Intão, e que pensem, sou mesmo!

[2]
ela - por favô sinhóra... nóssa, qui língua mais enrolada...
eu - pode falar português.
ela - nóssa, qui legal! será qui você podji ajudá a gentji?
eu - sim, claro. se conseguir...
ela - A gentji quiria ir pró museu, esse aqui, tá vendo? Pegamo o metrô, mais aí a moça fala prá gentji qui hoje tem linha encerrada qui é pra gentji sair. Ficamo andando e istamo meio perdido.. Como faz prá ir pra essa paragem de metrô?
eu - Ora bem, acho que é por aqui para baixo: atravessam a rua, passam para o outro lado e paragem deverá estar algures aí.
ela - obrigada, viu?
eu - de nada, boa viagem.

fiquei a olhar para o mapa e percebi que lhes tinha dado as indicações erradas. podia deixá-los ir: mais cedo ou mais tarde iriam voltar ao local de partida e perguntariam a outra pessoa como ir para o museu. mas pensei que lhes poderia acontecer alguma coisa como por exemplo, serem raptados por extraterrestres ou então assassinados por um celerado que deixasse partes do corpo por toda a cidade.
corri atrás deles.

eu - hei!!! desculpem...
ela - oi?!
eu - Desculpem, enganei-me. Não é por aí, mas se quiserem vir comigo até à catedral, torna-se mais fácil indicar-vos o caminho.
ele - ai qui légau! você é muito gentjiu. Você é daqui?
eu - Não, sou de Portugal.
ele - Ah, portuguesa! Então somos quasi irmãos! A gentji é do Brasiu.
eu - a cidade está com muito brasileiros!
ele - É.
eu - Aliás, a cidade está com gente de todo o lado.
ele - E você istá aqui sozinha?
eu - sim
ele - nóssa! é mesmo? Istá dji férias?
eu - umas miniférias, sim. Ora bem, a catedral está nas nossas costas, como no mapa. Esta rua larga, é esta que está aqui no mapa. Portanto, para o metro, têm de ir por aqui pelo lado esquerdo. Passam para o outro lado, andam um bocadinho e têm a paragem de metro.
ela - Nóssa, obrigado, viu? Qui deus tji ilumini!
eu - obrigada!
ele - Qual seu nôme?
eu - X
ele - X, cê é márávilhósa. Márávilhósa e linda, viu? Num isquéci isso, viu? E num deixa qui ninguém tji diga o contrário.

(fiquei parada no passeio a vê-los andar na direcção certa. não sei se foi a catedral a dar meio-dia com a chuva cerrada como pano de fundo, mas deu-me para o sentimento.)

5 comentários:

  1. Cada um toma a que quer, bem sei. Água benta não é certamente,
    e a presunção não bate assim.
    Fui ver: era uma figura de estilo, o exagero.
    Mesmo que eu seja "márávilhosa e linda" aquilo foi uma forma de falar. É como dizer "olá linda"; usa-se, mas não quer dizer nada para quem recebe o elogio nem nada diz de quem o profere.
    Mas guardo estas coisas para recordá-las quando estou a entrar em espiral descendente. É isso...
    Beijinhos beluga

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  2. Ohhhhh.... coitadinha da fofinha....

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