- o carteiro -
estes dias foram tramados. por isso, e porque tinha o que fazer, fiz greve de blog. vovó morreu. a minha reacção foi "os próximos somos nós. os próximos a enterrar os nossos pais e fazer cara de enterro - "obrigada. sim, estava a sofrer muito. foi melhor assim" - somos nós.
percebi que apesar de ter, no geral, uma boa imagem mental do meu corpo, essa imagem desaparece quando me vejo ao espelho. não tenho cintura. e se há dias em que não me vejo ao espelho, quando vejo parece que está tudo errado, tudo fora do sítio.
alguns amigos foram à vida deles sem dizer "água vai". vá-se lá compreender a mente humana.
a minha subsistência preocupa-me. não sempre, é verdade, mas o futuro preocupa-me. queria ter coragem para me pôr a andar, mas não tenho. acho que não consigo deixar tudo (que às vezes acho que é muito e outras não) e ir para outro país. todas as pessoas que conheci me parecem tão bem na vida. todas tão voluntárias, criativas, evoluídas. com bebés, empregos fantásticos, casamentos bem postos. enfim, mudanças. eu acho que continuo agarrada a formação académica compulsiva para protelar o momento da realidade.
2 Comments:
Há de reencontrar o seu tempo, já pensou que o tempo de cada um não se mede pelo tempo dos outros?
Sobre a morte da sua avó, lembra-se da descrição do Proust(em busca do tempo...Vol. III, penso eu )
Um grande beijo pela avó e pelo seu tempo
não quero estar aqui a "trocar galhardetes", mas sabe, quando a alma escreve este tipo de coisas, fico mais tranquila.
sim, de facto as coisas não são assim tão lineares quanto nos querem fazer acreditar. se calhar o meu tempo ainda está para vir; eu pelo menos penso muitas vezes que há uma série de coisas que ainda não vivi, mas que vou viver, apesar destas serem "fora de tempo". mas vai daí... o tempo passa e eu dou-me conta que, apesar de não estar exactamente no sítio anterior, evoluí (ou mudei, se quiser), muito lentamente. mesmo a recuperação de peso (e de cá de dentro) já dura há 14 anos. por exemplo: tenho carta, mas recuso-me a conduzir porque não me sinto capaz; não sei andar de bicicleta; nunca namorei e quando alguém se aproxima de mim eu coro como se tivesse 15 anos. enfim, há um conjunto de coisas que não mudou. o que mudou mesmo foi o investimento que fiz na minha formação, no conhecimento. mas mesmo isso me parece prolongar um estado que não é condizente com a minha idade, em que devia estar a trabalhar, ter crianças, casar, conduzir, pagar uma casa a prestações, ir almoçar aos domingos a casa da sogra... ou seja, tudo o que não quero! mesmo assim, devia estar sujeita a essas escolhas. posso dizer "não namoro por opção". É verdade, mas também é verdade que nem sequer chego perto de ter essa opção. Dedicando-me a outras coisas que considero importantes, deixo de ter espaço e vontade de sair, conhecer gente e daí, colocar-me numa situação de possível paixão. Logo não namoro. bem, vou para dentro
Enviar um comentário
<< Home